Este é meu sonho concreto
(by Kevin D. S. Leyser)
A comum indiferença amortece minha consciência
O que os meus olhos não veem, meu coração não sente
Profundamente enclausurado em desculpas racionais
Mergulho em sangue inocente
Mãos atadas por ufanias
Lábios destilando discursos vazios
Sepulcros de mentiras caiadas
Máscaras de corações empedernidos
A comum indiferença amortece minha consciência
Preciso abrir meus olhos
Antes que a humanidade em mim pereça
Meus olhos estão pesados, mas eu quero acordar
Dos sonhos de uma vida de pura ilusão
De palavras vazias que cansei de escutar
Vazias da graça do amor na ação
Dizer, saber, falar, julgar,
Pregar poder, sem perceber
o que nos define são nossas ações
e o que nos definha é agir sem amor
Rompendo o vício da monotonia
O tédio dos ritos e vãs tradições
Percebo que o Amor somente germina
No Solo Humano da Libertação
Sair das paredes de um mundo mesquinho
que usa as pessoas e ama o poder
Ópio do povo, amortece os sentidos
Não vê o oprimido ao lado sofrer
O que liberta não é um poder para a opressão
É partilhar do cuidado, da vida, do amor, da paz e do pão
Se quero viver em um mundo melhor
minhas palavras serão meu agir
minhas ações, amar e servir
Esta será a minha Revolução
Mas preciso abrir meus olhos e proclamar
Que “Eu tenho um Sonho”!
Que eu tenho um sonho concreto
Revelado em minhas palavras e ações
De não nivelar o outro entre a massa dos iguais
De não rejeitar/desprezar o outro como indigno
Por não ser como eu
Por não pensar como eu
Por ser diferente
Pois o Amar não é possuir
Não se pode amar de verdade
Se amar só o que do outro há em mim
O amor só pode nascer quando o Outro aparece
Quando vejo os seus sonhos, seus desejos,
a sua vida que não minha
Quando permito-me vê-lo pelo o que é
Pelo o que está sendo
E como um bom samaritano
Estendo a minha mão
Desafiando convenções
Que deveriam curvar-se
Sob a mais elevada lei
Do Amor.
Que ouçam os inveterados defensores da 'Verdade'"
Cuidem da Liberdade, que a verdade cuidará de si mesma.
Este é meu sonho concreto.
Desadormeço desse dogmático torpor
Pálpebras pesadas, excisadas pela angústia e dor
Desnudado de escusas, vulnerável ao amor e à vida
Insurreto do leito de morte de palavras vazias
Descalço, cônscio do humo na epiderme
Do gérmen dos passos no mundo de Hermes
Não ouso evadir o sonho concreto
Do outro e eu sob o mesmo teto
Do encontro na solidão
Do desespero rasgando a pele espessa da escravidão
Do toque de ásperas mãos
Tateando o corpo da libertação
Dos inaudíveis gemidos, daqueles não escolhidos
Perfurando os ouvidos ungidos e altivos
Da púrpura tinta nas páginas de histórias de glória
o sangue e suor daquelas, daqueles relegados à memória.
Difícil esperançar por tal liberdade, por tal revolução do Amar
Em dias sombrios como estes
Mas hoje é propício lembrar que mesmo tardando
Vale a pena por ela lutar
Pois somos definidos por nossas escolhas
E eu escolho amar, escolho a liberdade
Escolho a Humanidade que ainda há em mim.
E só posso esperançar
Que você também almeje e viva assim.
Não ao discurso de ódio, não há segregação
Não ao obscurantismo, não ao racismo e a discriminação
Por um povo brasileiro gigante
Que não se curva ao poder opressor
Por um povo livre e que unidos lute
Por um futuro de paz, liberdade e amor.